PROTEGER E EDUCAR


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Um novo movimento, uma nova bandeira: "QUALIDADE"


(Fábio José Garcia Paes - assessor nacional da Aldeias Infantis SOS Brasil)
 
 
"Palavra de Abertura Oficial"
 
Bom dia!
 
“TUDO O QUE PODE SER DESTRUÍDO DEVE SER DESTRUÍDO PARA QUE AS CRIANÇAS POSSAM SER SALVAS DA ESCRAVIDÃO”.
 RAOUL VANEIGEM –
 
Queremos dar as boas vindas à tod@s @s parceir@s, apoiador@s e à tod@s @s participantes deste primeiro seminário de “Qualidade nos serviços de Acolhimento”, uma iniciativa da Organização Aldeias Infantis SOS Brasil e o NECA - Associação dos Pesquisadores de Núcleos de Estudos e Pesquisas sobre a Criança e o Adolescente .
 
Está sob a minha responsabilidade fazer este abre alas, este prelúdio ou introdução a este Seminário. Por isso, farei em três momentos: No primeiro momento narrar a todos aqui presentes de como surgiu esta história toda de Seminário e de Qualidade no Brasil. No Segundo Momento, apresentar formalmente o tema gerador e por último propiciar a vivência do tema mediante a expressão artística de adolescentes e jovens – do Cia Saúvas – adolescentes e jovens disseminadores e defensores do direito à convivência familiar e comunitária. Esta será nossa “dinâmica” introdução. Vamos lá!
 
Como surgiu esta proposta?
Há aproximadamente há dois meses estive no Prêmio Itaú UNICEF, promovido pelo CENPEC e reencontrei com Isa Guará, grande parceira da Organização Aldeias Infantis no âmbito da pesquisa sobre a infância. Neste reencontro conversamos sobre vários temas entre eles a novas perspectivas de ambas as instituições, tanto do NECA como da Aldeias Infantis SO. Chegamos a um denominador comum: a necessidade de desenvolver uma Politica de Qualidade em âmbito nacional. A Aldeais Infantis tem como meta para estes próximos anos a elaboração de um “Projeto de Qualidade” em âmbito nacional para todos os seus serviços tanto de acolhimento institucional, como de fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, fundamentada com diversos materiais publicados pela Organização em âmbito internacional nestes últimos quatro anos. Já o NECA, interessado em iniciar esta discussão com a rede nacional de serviços de acolhimento mediante as experiências reladas desde 2003 na União Europeia, em que se cria uma rede de discussão, publicação e monitoramento de um projeto entre países de qualidade no cuidado alternativo de crianças, que perderam o cuidado parental. Com estas duas “pré-intenções” criamos imediatamente um acordo de intenções: sentemos e pensemos em um projeto juntos Intitulado “Qualidade nos serviços de Acolhimento Institucional”. Só que antes de construirmos um projeto juntos, é necessário escutar, partilhar, discutir, coletar saberes e perspectivas, convocar mais pessoas, organizações para esta roda, que não tem como centro as duas organizações, mas sim o direito à qualidade como subliminarmente apresenta a Convenção Internacional dos Direitos da Criança e Adolescente  - por isso, da realização deste seminário que tem este nobre, e ousado intuito! Em menos de dois meses definimos temas, palestrantes, mediadores, parceiros institucionais e diversos apoiadores, que foram fundamentais para estarmos aqui hoje.
Tudo foi criado e pensado neste período, até a logomarca para este evento, uma mágica do trabalho voluntário de diversas pessoas, que na verdade este seminário é a antessala, ou melhor, a porta de entrada do movimento que ora se inicia.
 
Qualidade? Porque qualidade?
Não ousarei falar com o discurso da assistência, nem menos do judiciário ou de qualquer outro campo técnico deste âmbito. Façamos algumas perguntas soltas, poéticas, mas que tem como objetivo acercar este tema escolhido e definido como prioritário.
Será que a “desculpa” de discutirmos sobre “Qualidade” não tem a ver com o distanciar pedagógico, intencional, e epistemológico do que fazemos? Transcender nossos sistemas, e todo complexo de ferramentas e normativas atuais de resposta frente ao interesse da criança e adolescente? Será que não tem a ver com a capacidade de inquietar-se, de estranhar aquilo que é obvio, comum, cotidiano e operacionalizado? Será que não é propiciar um espaço, um tempo, uma pausa, uma moratória onde admiremos outra realidade possível e necessária? E neste jogo de interrogações surge a questão: O que está posto pela lei, pelas orientações, pela prática, pelos orçamentos, pelos planos estratégicos e operacionais e pelos diversos sistemas existentes é a melhor resposta para impactar e mudar a vida de crianças e adolescentes sempre vítimas de uma cultura adultocêntrica e laboratorial no campo do direito e no âmbito assistencial? O que fazemos é duradouro, certo, melhor, adequado, por isso, qualificado para este objetivo? Ao falar de qualidade será que não apresentamos uma mudança de centralidade, trazer aquilo que é periférico, marginalizado, esquecido para o centro. Inverter a lógica de atendido X assistência. Mas porque pensar assim? A qualidade traz uma verdade no campo de nossas atuações e conhecimentos: tudo o que existe é temporal, precário, provisório, limitado, esgotado, reduzido, falido, perecível... para sair desta fatalidade surge à necessidade de caminhar, movimentar-se, discutir-se, aprofundar, sair da zona de descanso, sair da bolha do tecnicismo e operacionalismo inconsciente. Por isso, neste território aqui proposto sobre a Qualidade nos serviços de Acolhimento, está para além de uma discussão só da assistência, ou só do judiciário, mas uma discussão e proposta multi-pluri – vivencial e sistêmica sobre a situação dos serviços de acolhimento no Brasil. Qualidade talvez esteja neste fio da navalha, entre o que existe e o que a necessidade, o interesse maior de crianças e adolescentes e jovens exige que façamos.
 
Saúvas – vivência temática
(A Cia de Teatro Saúvas apresentou algumas músicas de provocação)

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